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Cruz

20 de julho de 2020   .    Padre Emanuel Artigos
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(Texto de Pe. Emanuel Cordeiro Costa com Certificado de Registro de Averbação na Fundação Biblioteca Nacional – EDA – Nº 563.678 – livro 1075 – folha 236)

Duas linhas ou duas barras que se cruzam, forma o que chamamos de cruz, tendo uma forma de T. Esta é a maneira mais simples de descrever uma cruz sem especificação de que cruz se trata. Existem vários tipos de cruz. Nós cristãos normalmente vemos a cruz como desenhadas e confeccionadas em nossos crucifixos e cruzeiros.

Hoje, para nós cristãos ela é símbolo de vitória, de redenção. Porém, para que a cruz chegasse a este sentido, temos que compreender a crucificação de Jesus. Sobre a crucificação, entendemos que era uma forma de pena de morte. Uma maneira de levar a pessoa à morte através da tortura. Então devemos nos perguntar o porquê da tortura? Da violência? Da morte?

Jesus só fez o bem. E o bem em todos os níveis. E com certeza isto mexe com as estruturas de poder de uma sociedade. Praticar a justiça é um bem. Porém, numa sociedade que tem uma estrutura injusta, a justiça é ruim, é incômoda.

Para o cristão que vive a superficialidade de sua fé (e estes são a maioria), parece que por motivos insignificantes mataram Jesus. Que não havia motivo suficiente para fazerem o que fizeram com Jesus. É claro que não devemos ter motivo algum para matar uma pessoa. Quem vive a superficialidade da fé cristã não vê os fatos levando em conta duas coisas simples: primeira, como se desenrola as coisas na ótica de uma sociedade de poder. Segunda, alguns imaginam a morte de Jesus quase numa visão teatral. Assim também nos foi ensinado. Então as coisas parecem assim, que pessoas más, briguentas, bagunceiras, resolveram de uma hora para outra matá-lo, para cumprir as escrituras, dando a entender que tudo ocorreu como uma peça de teatro, onde tudo já estava escrito nas profecias. Assim alguns tinham que fazer aquela crueldade para se cumprir tudo como estava escrito. Não! As pessoas agiram livremente e livremente aderiram a Jesus ou à estrutura de poder violenta que destrói a vida.

O simples fato de colocarem no alto de sua cruz: INRI (Jesus Nazareno rei dos judeus), diz muito. Você sabe que os reis tinham poder absoluto. Não havia democracia. Nem queriam concorrentes. Alguém ser visto pelo povo como rei, mexeu com certeza, com a cabeça de Herodes, de César e outros. Jesus é um “concorrente não aceito”. É acusado de blasfêmia por dizer ser o filho de Deus. O poder religioso fortíssimo daquele tempo não admitia isso. Concorrência para eles. É acusado de não pagar imposto a César. Isto não é brincadeira, afronto a um imperador com poderes absolutos e tiranos.

Ainda hoje, em nossas chamadas democracias, muitas vezes, o poder tem meios violentos, porém sofisticados de eliminar seus opositores. São as cruzes que nem sempre vemos ou não queremos ver.  

A crucificação de Jesus como de todos condenados da Idade Antiga era de extrema violência. Antes da crucificação normalmente tortura-se a pessoa, flagelando-a, depois vem o momento maior da tortura com a pessoa agonizando-se na cruz até morrer.

A condenação à cruz tinha uma conotação social de algo vergonhoso e humilhante. Não bastando a dor física, temos a dor moral e psíquica. E Jesus passa por isso. E não esqueçamos que Jesus nos disse que o cristão tem que tomar a sua cruz no dia-a-dia e segui-lo.

Lendo à luz da fé os acontecimentos da paixão e morte de Jesus, este instrumento vergonhoso de morte: a cruz, Jesus ressuscitando dá um novo sentido a ela, que servia para tortura e morte. Sai vitorioso da mesma ao ressuscitar. Ela passa a significar redenção. Salvação de toda humanidade, a nossa libertação.

Porque a temos como símbolo de vitória e a exaltamos como santa, nos levando muitas vezes a esquecer da grande dor que empreendia aos condenados no passado, sobretudo a Jesus. Com isso não vemos os inúmeros irmãos ainda sendo crucificados hoje por nossos sistemas políticos e econômicos excludentes que matam e que destrói a vida.

Iniciamos e normalmente encerramos as nossas celebrações sacramentais com o sinal da cruz. Em nossas orações diárias, normalmente fazemos o sinal da cruz. No dia 14 de setembro, a Igreja celebra “A Exaltação da Santa Cruz”.

Que tudo que fizermos, ao celebrarmos, com este grande símbolo, a cruz, possamos ver Jesus nos crucificados de hoje e somente na medida em que promovermos a vida e não a morte dos irmãos é que este símbolo estará nos conduzindo a vitória que Jesus teve ao ressuscitar vencendo a morte.

 

Artigo de: Pe. Emanuel Cordeiro Costa