(Texto de Pe. Emanuel Cordeiro Costa com Certificado de Registro de Averbação na Fundação
Biblioteca Nacional – EDA – Nº 544725 – livro 1025 – folha 489)
Os três evangelhos sinóticos trazem esta expressão quando Jesus é questionado se é lícito pagar imposta a César ou não. (Mt 22,15-22 / Mc 12,13-17 / Lc 20,20-26).
Vou comentar aqui esta expressão me prendendo mais ao texto do evangelho de Marcos 12,13-17.
13 Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos fariseus e herodianos para o apanharem em alguma coisa que ele dissesse.
14 Estes se aproximaram dele e disseram: “Mestre, sabemos que és integro e que não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. É certo pagar imposto a César ou não?
15 Deve pagar ou não?”
16 Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, perguntou: “Por que vocês estão me pondo à prova? Tragam-me um denário para que eu o veja”. Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: “De quem é esta imagem e esta inscrição?”
“De César”, responderam eles.
17 Então Jesus lhes disse: “Deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E ficaram admirados com ele.
COMENTÁRIO:
De início, no versículo 13, fala que foram enviados até Jesus dois grupos de adversários dele: fariseus e herodianos, para tentar encabulá-lo. Tentar pegá-lo em alguma palavra mal colocada ou faze-lo cair em contradição. Ele está diante de pessoas más intencionadas que querem vê-lo na pior. No versículo seguinte rasgam um lindo elogio a Jesus, sendo que o que disseram era verdade, porém eles não viam Jesus assim, disseram uma verdade que eles não aceitavam, fazendo um elogio lindo, mas com falsidade. Isto acontece frequentemente em nossas vidas ou rasgamos elogios falsos ou somos vítimas deles. Com toda esta falsidade você já imagina o que virá pela frente. Será que eram tão ignorantes assim e queriam saber mesmo de verdade se era lícito pagar imposto? Com certeza, não. Aqui não se trata de gente sem esclarecimento que deseja saber como fazer diante do pagamento de impostos. A pergunta que vem a seguir é de uma maldade terrível, pois poderia levá-lo a condenação e morte imediatamente. “É lícito pagar imposto a César ou não? E vão mais firmes na insistência: Pagamos ou não pagamos? Jesus não entra no jogo maldoso e nem responde sobre a pressão que fazem. Se Jesus dissesse que se deve pagar imposto a César, Jogariam Jesus contra o povo, pois os romanos eram odiados por eles. Se dissesse que não se deve pagar imposto iriam acusa-lo de subversivo contra o imperador. Fala no versículo 15 que Jesus conhecia a hipocrisia deles. Como conhece as nossas, quando agimos de má fé, dando a entender que estamos fazendo o bem e queremos esclarecimento, mas a exemplos de herodianos e fariseus nem sempre damos contas de nossas hipocrisias. Jesus ainda diz “porque me pondes a prova”? Jesus vai fundo na questão pedindo para ver a moeda que eles carregavam. No versículo 16, Jesus pergunta de quem é esta imagem e inscrição. Imagem de qualquer coisa, para eles, tinha a conotação de idolatria. E César muitas vezes era adorado como acontecia no império romano. O imperador quase que abaixo de Deus era tudo, como o representante legítimo de Deus na terra. Ao responder que a inscrição que traziam era de César já os desmascaravam. Carregam imagem do Imperador. Pagar imposto já estava ligado a dominação e usar a moeda também. No versículo 17 vem a resposta: O que é de César, daí a César: o que é de Deus, a Deus. Em outras palavras, César não é Deus e nem deve ser adorado como tal. Se dar a César o que é dele e a Deus o que é de Deus, fica bem claro que César não deve ser venerado, porque não é Deus. E ele tem que dar a Deus o que dele: a prática do bem comum para o povo de Deus. O final do versículo conclui dizendo que admiraram Jesus. Mesmo mantendo-os na postura contraria a ele, não tinha como deixar de reconhecer sua grande sabedoria. Só que este reconhecimento não foi suficiente para mudanças de propósitos, para a conversão. E isto se dá conosco também. Reconhecemos e aceitamos Jesus como Deus, mas em termos de conversão temos dificuldades com grandes mudanças.
Mas esta frase muitas vezes foi usada especialmente no período da ditadura militar no Brasil, quando a ação da Igreja Católica era muito profética, para tentar dizer a Igreja não deve se meter na política. Deve cuidar só das coisas de Deus e fazer vistas grossas aos abusos do regime militar. E este sentido não parou por aí, alguém quando se sente incomodado com a ação profética da Igreja começa a dizer que igreja é só para rezar, e não deve se envolver com questões sociais e políticas.
Devemos dar a Deus sim a nossa vida, nosso louvor, nossas orações, mas certos de que isso nos faz participantes da vida social e política, onde o cristão deve marcar presença com a capacidade de ser solidário e construtor de uma sociedade de irmãos onde os impostos pagos por nós devem ser bem aplicados para o crescimento de toda a sociedade.
Artigo de: Pe. Emanuel Cordeiro Costa