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Nº 3 – Competição – Segunda Iluminação Bíblica: Evangelho de Mateus 20,1-16

16 de março de 2020   .    Padre Emanuel Artigos
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(Artigo de: Pe. Emanuel Cordeiro Costa)

Antes da leitura bíblica abaixo, creio que você caro Internauta já leu com o mesmo título, os dois artigos anteriores: Competição. Se não leu, aconselho a ler antes de prosseguir neste.

Segunda Iluminação Bíblica – Mateus 20,1-16
1 “De fato, o Reino do Céu é como um patrão, que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2 Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. 3 Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo. Viu outros que estavam desocupados na praça, 4 e lhes disse: ‘Vão vocês também para minha vinha. Eu lhes pagarei o que for justo’. 5 E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que vocês estão aí o dia inteiro desocupados? ’ 7 Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Vão vocês também para a minha vinha’. Quando chegou à tarde, o patrão disse ao administrador: ‘Chame os trabalhadores, e pague uma diária a todos. Comece pelos últimos, e termine pelos primeiros’. 9 Chegaram aqueles que tinham sido contratados pelas cinco da tarde, e cada um recebeu uma moeda de prata. 10 Em seguida chegaram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um deles recebeu também uma moeda de prata. 11 Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 12 ‘Esses últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualastes a nós, que suportamos o cansaço e o calor do dia inteiro! ’ 13 E o padrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? 14 Tome o que é seu, e volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. 15 Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso? ’ 16 Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.

Comentário do Evangelho
Geralmente racionamos assim: cada um deve receber pelo que faz e não leva em conta a necessidade das outras pessoas.  Não preocupamos se estão empregadas, quantas horas de trabalho fazem, se tem um lugar para morar. A justiça do Reino pregada por Jesus é bem diferente. Entende-la exige de nós muita abertura para que a palavra de Deus fale em nós, nos ensine e eduque. Nesse evangelho o espirito de competição se faz presente na mentalidade dos primeiros empregados contratados. O ciúme leva a isso.

No evangelho de Mateus (3,15) Jesus diz: “Devemos cumprir toda a Justiça”. Uma particularidade do Evangelho de Mateus que Jesus é o mestre da Justiça. Seus seguidores devem buscar o Reino através da pratica da Justiça. Jesus diz também em Mateus (5,20) “Se a vossa justiça não superar a dos doutores da lei e fariseus, não entrarão no Reino do Céu”. Diante destas informações do próprio evangelho compreenderemos a passagem que estamos comentando.

Quem na Igreja muitas vezes não demonstra gostar de privilegio e usam argumentos competitivos que assemelha a dos trabalhadores contratados primeiro na parábola. Acham que por estar a muito tempo na Igreja ou em algum cargo que com isso tem mais direitos que os outros. Argumentam sempre: “estou nesta Igreja a tantos anos, desde da época…” “Estou na Pastoral… desde quando foi criada….” Usam estes argumentos ciumentos para competir com os novos tendo a mesma postura dos trabalhadores enciumados da parábola. O que revelam medo de perder o poder, de perder a influência sobre os demais e que os novos sobressaiam mais que elas. Adotam atitudes autoritárias, tentando eliminar e afastar os que chegam ou que fiquem num segundo plano, sujeitando seus mandos e desmandos. Autoritariamente criam obstáculos aos novos para que estes não ocupem seu espaço tentando excluí-los. E o termino da parábola é bem forte: Últimos que serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos (v.16).

Um erro muito grande é usar a parábola para justificar privilégios. Uma leitura Orante e mais atenta não nos leva a isso, mas quando se quer manipular o texto, aí a pessoa distorce como infelizmente quer e deseja.

O ambiente social da época mostrado na parábola informa uma situação lastimável: Praça. Lugar de encontro das pessoas, está cheia de desempregados. Como hoje deveríamos nos perguntar o porquê do desemprego. O ideal bíblico é que todos tenham terras para viver, plantando colhendo e assim por diante. As cinco horas da tarde a praça está cheia de desempregados e nos informa o evangelho: “Ninguém nos contratou” (v7). Por isso estão atoas. Isto tem alguma coisa haver com os nossos dias?

Comparando o Reino do Céu como um patrão que saiu de madrugada (v1). Os trabalhadores contratados bem cedo, foram contratados por uma moeda de prata por dia (v.2). O salário pelo costume se pagava ao fim do dia. Os empregados concordaram com o salário estipulado. Supõe que uma moeda de prata diária, poderia levar dignamente a vida.

(v3) Os contratados as nove horas não fala em pagar uma moeda de prata, mas o que for justo (v4). Fica em suspense o que o patrão entende por Justiça? O patrão faz a mesma coisa ao meio dia e as três da tarde (v5) e as cinco horas (v6). A praça está cheia por que ninguém os contratou (v7) A sociedade parece não estava interessada nos desempregados.

Os últimos não sabiam quanto iam receber e toparam trabalhar uma hora.

Pelo exposto aqui devemos começar a entender o que é a Justiça do Reino. Pelos critérios meramente humanos, olhando para o nosso modelo de sociedade, fica difícil entende-la, aceita-la. O patrão diz ao administrador: pague uma diária a todos. E disse ainda: Comece pelos últimos e termine pelos primeiros (v.8). Há uma inversão da ordem, com certeza criando suspense, diálogo entre patrão e empregados, reclamação e contestação de um grupo de empregados que foram os primeiros contratados.

Como disse anteriormente no início do comentário, a justiça humana diz que cada um deve receber pelo que faz e não leva em conta a necessidade das outras pessoas. Se estão empregadas ou desempregadas, as que estão empregadas quantas horas de trabalho fazem, se tem um lugar para morar. A justiça do Reino, todos têm direito o que é justo, todos têm direito à vida em abundância. As pessoas especialmente os pobres não deveria carecer de beneficência, mas de justiça, dando a cada um o que for adequado para uma vida digna.

(v.12) As reclamações dos primeiros trabalhadores são de pessoas preocupadas com privilégios em relação as outras. Não estão preocupados com a justiça sendo feito aos outros. Nem reclamam (resmunga) tanto o salário maior e sim a igualdade de tratamento. Quando defendemos desigualdades gritantes entre nós, somos também os primeiros empregados da parábola.

(vv. 14-15) O trabalho não é para criar desigualdade. Não posso sentir ciúmes por que Deus quer a igualdade de todos. Ele quer o bem a todos, quer a generosidade a todos.

O reino de Deus não é coisa só para a eternidade, ele começa aqui, deve ser vivido aqui e na sua plenitude só na eternidade. Por isso no Pai Nosso rezamos que fazemos a vontade de Deus não só na eternidade, mas também na terra. Quem se converte mais tarde, quem está na Igreja a menos tempo, quem exerce um serviço pastoral a menos tempo, o Reino é para elas também. Jesus não promete dois céus, dois reinos uns para os que trabalharam mais e outro para quem trabalhou menos. Veja o ladrão que pede perdão na cruz quando estava morrendo. Jesus o perdoa e não fala num reino de segunda classe para ele. Recebeu o Reino na sua plenitude. É claro que isso não pode nos levar a pirraça como uma criança, já que posso mudar no final da vida então vou aproveitar agora e fazer minhas atrapalhadas e no final me converto. Esta postura seria terrível pois a pessoa demonstraria acomodação ao amor a Deus, vingança, ciúmes pecando conscientemente o que é grave.

No primeiro artigo e no segundo sobre o mesmo tempo: Competição, mostrei sentimentos negativos que nos leva a competir, e nesse artigo e no texto do evangelho analisado, outro sentimento que é o ciúme. Este nos leva a querer competir e o desejo de privilegio, deixando de lado a justiça, nos fazendo competir da pior maneira possível, pois não vamos competir levando em conta o direito do outro a uma vida digna. Que possamos cada vez que refletirmos sobre a competição e o que nos leva a ela termos a sabedoria e acolhimento do evangelho que nos convertendo a proposta do Reino não nos fará ter sentimentos negativos para competir com o irmão. Não esqueçam que o ciúme de alguns que não queriam a justiça para todos levou Jesus a morte.

 

Artigo de: Pe. Emanuel Cordeiro Costa