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É preciso sair com o Santíssimo nas ruas?

15 de abril de 2020   .   
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Ante o surto do COVID-19, de todos os lados nos chegam pedidos no sentido de que os padres andem ou façam carreatas com o Santíssimo pelas ruas. Já houve quem fez isso. Outros não concordam. O que dizer?

Robson Hamuche fez uma reflexão interessante. Depois dessa pandemia, “não podemos voltar ao normal, porque o normal era exatamente o problema. Precisamos voltar melhores”. E aqui está a grande questão. Como aprender com tudo isso? O que mudar? Certamente as lições são incontáveis.

Fiquemos na questão do Santíssimo. Jesus pegou o pão e disse: “Isto é o meu corpo” (Lc 22,19). Graças a essa palavra, todos nós acreditamos que Jesus está realmente presente na Hóstia consagrada. Ali, nós o encontramos, o adoramos e dele nos alimentamos.

Percorrendo o Evangelho, iremos encontrar outras passagens muito semelhantes. Em uma das suas catequeses aos discípulos, Jesus afirma: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali ESTOU EU no meio deles” (Mt 18,20). Seria uma presença menos real? Menos importante? Menos eficaz? Na celebração eucarística, antes mesmo da consagração, o povo já afirma: “Ele está no meio de nós!”. E está. Uma presença real…

João Evangelista deixa claro que Jesus Cristo é a Palavra do Pai, o Verbo que se encarnou e fez morada no meio de nós (Jo1). Ele está na Palavra que é proclamada e ouvida. Ele é a Palavra.

Quando fala do julgamento final, sua palavra é também muito incisiva: EU tive fome, EU era estrangeiro, EU estava doente, EU estava preso… “Cada vez que fizestes isso a um dos meus irmãos mais pequeninos, a MIM o fizestes” (Mt 25,31-40).  Jesus não fez uma comparação: É como se fosse… Ele diz claramente ‘eu’, ‘a mim’. Ele está presente na(o) irmã(o) que encontramos.

Será que poderíamos dizer que essa presença dele não é real? Que argumento teológico ou bíblico poderíamos usar para dizer que a presença de Jesus Cristo, na Hóstia consagrada, é mais importante, mais real, mais poderosa do que sua presença na pessoa, na Palavra, num grupo que se reúne na fé em nome dele?

Como não acreditar que é possível estar em comunhão com Ele, mesmo quando não podemos receber a Hóstia? Como não entender que, se não podemos ir à igreja, o nosso lar é a Igreja? Ali, num clima de oração, de amor, Jesus está “realmente” presente. Há motivos para não aproveitar nossas “igrejas” fechadas e pensar um pouco mais no apelo insistente do papa Francisco para que sejamos uma “Igreja”aberta, em saída, para fora, além da sacristia, presente no mundo?

É o momento de abandonar o costume de identificar a Eucaristia com o objeto, a Hóstia. É o momento de pensar nela como ação salvadora de Jesus Cristo, em nossa vida e na vida dos nossos irmãos e de nossas irmãs. É o momento de deixar de olhar para a Hóstia como algo mágico, que cura tudo, e realizar o desejo de Jesus de fazer dele próprio – na Hóstia consagrada –o alimento que nos fortalece na caminhada da vida e na luta por um mundo justo e fraterno. Em vez de colocar a Hóstia num ostensório dourado, distante de todos, vamos recordar que Jesus escolheu os lugares mais pobres e simples, para nascer, viver e morrer. É hora de resgatar a simplicidade de Jesus e da Igreja primitiva.

E é o momento de recordar que Jesus instituiu a Eucaristia não como objeto de adoração, mas como alimento e força para quem precisa: “Tomai e comei!”. Não para quem merece.

Pe. José Antonio de Oliveira

Fonte: Arquidiocese de Mariana

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