Pintura ‘A História de Santo André’, de Pomponio Amalteo, do século XVI
Durante o Tempo Pascal, os cristãos são convidados a contemplar os primeiros passos dados pela Igreja nascente após a Ressurreição de Jesus. A principal fonte é o livro dos Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista São Lucas.
No entanto, existem outras fontes históricas e da tradição eclesiástica que ajudam a compreender o nascimento da Igreja e como se deu a pregação dos apóstolos após a vinda do Espirito Santo em Pentecostes. Nesta edição, O SÃO PAULO inicia uma série sobre a chamada Igreja Primitiva.
Um dos autores que ajudam a compreender esses fatos é Eusébio de Cesareia, bispo que viveu entre os séculos III e IV, primeiro responsável por reunir todos os relatos e documentos que narram a história das primeiras comunidades cristãs, em sua obra intitulada “História Eclesiástica”.
Em missão
É esse bispo que narra que, depois da ascensão de Jesus, os judeus iniciaram uma perseguição aos seguidores de Cristo, sobretudo após o martírio de Santo Estevão (At 7,57-58). “Todos os discípulos, exceto os 12, se dispersaram por toda a Judeia e Samaria. Alguns, segundo diz a Escritura divina, chegaram à Fenícia, Chipre e Antioquia. Não estavam ainda preparados para ousar compartilhar com os gentios a doutrina da fé, e assim a anunciaram somente aos judeus”, relata o historiador.
A primeira grande comunidade cristã que surgiu fora dos limites de Israel é Antioquia, na Síria, fundada pelo próprio apóstolo São Pedro, e que se tornou um centro de irradiação missionária para o mundo helenista. Foi lá́ que pela primeira vez os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos (cf. At 11,26).
Pregação de São Paulo em Atenas (pintura anônima do século XIX)
Após a conversão (cf. At 9,19), Paulo também protagonizou a expansão da mensagem cristã. Ele realizou três grandes viagens missionárias em terras pagãs, fundando várias comunidades na Ásia Menor (Turquia) e na Grécia, em muitas delas acompanhado por Barnabé́.
Roma
Acredita-se que o Cristianismo chegou a Roma por meio de judeus romanos que haviam peregrinado a Jerusalém e testemunharam o acontecimento de Pentecostes (cf. At 2,9-11). Após abraçarem a fé́, regressaram a Roma e lá́ transmitiram a Boa-Nova.
São Pedro e São Paulo, portanto, encontraram uma comunidade estruturada quando lá́ chegaram e fundaram à Igreja romana. E, como se sabe, ambos foram martirizados na Cidade Eterna.
África e Ásia
São Tiago, o justo, também conhecido como o “irmão do Senhor”, foi o primeiro responsável pela Igreja de Jerusalém, onde foi martirizado.
São Filipe foi o primeiro a pregar a doutrina aos samaritanos. Depois, seguiu para Cartago, no Norte da África, e para a Ásia Menor. São Mateus pregou o Evangelho na Pérsia (atual Irã) e na Etiópia.
São Simão teria chegado até a região da Grã-Bretanha, passando pela África e Pérsia. São Judas Tadeu pregou na Mesopotâmia, na Líbia e na Pérsia.
Atribui-se ao evangelista São Marcos a fundação da Igreja em Alexandria, no Egito. A difusão do Cristianismo naquela região também se deve às inúmeras colônias de monges eremitas que se fixaram lá́ entre os séculos III e V.
São João Evangelista, o “discípulo amado do Senhor”, liderou a Igreja de Éfeso antes de ser exilado na Ilha de Pátmos, onde teria escrito seus textos do Novo Testamento. É considerado o único dos apóstolos que não foi martirizado. Ele morreu de morte natural por volta do ano 103.
Mosaico na ilha de Patmos retrata São João (de pé), narrando as visões do Apocalipse ao seu discípulo Prócoro (reprodução da internet)
Europa
Tiago Maior, filho de Zebedeu, é reconhecido como o evangelizador da Península Ibérica, mais precisamente da Espanha. O que se sabe é que ele foi morto em Jerusalém no ano de 44, sendo, inclusive, o único apóstolo cujo martírio é narrado na Bíblia (cf. At 12,2). A partir do século VII, difundiu-se a tradição de que seus restos mortais teriam sido leva- dos para a Espanha, atendendo a um pedido seu antes da morte, sendo sepultados na atual cidade de Santiago de Compostela.
Santo André, irmão de Pedro, foi para a região conhecida como Cítia, onde hoje estão os países da ex-União Soviética. Também pregou na Ásia Menor e na Grécia e é considerado o fundador da Igreja em Bizâncio, que depois se tornou Constantinopla (atual Istambul, na Turquia). Por isso, é o primeiro patriarca de Constantinopla.
Índia e Arábia
Os textos apócrifos registram que o apóstolo São Tomé pregou o Evangelho a leste da Síria, chegando à Índia, onde foi martirizado. Alguns historiadores, porém, afirmam que o Cristianismo talvez só́ tenha chegado a essa região no século III, pela ação de viajantes persas e armênios.
São Bartolomeu fez diversas viagens missionárias. Ele teria ido à Índia com Tomé, à Armênia, à Etiópia e ao sul da Arábia.
A todos os povos
Embora alguns detalhes nunca possam ser confirmados com precisão histórica, existe uma certeza testemunhada por muitos cristãos daquela época e transmitida por gerações, como atesta Eusébio de Cesareia:
“Sem dúvida, por uma força e uma assistência de cima, a doutrina salvadora, como um raio de sol, iluminou subitamente toda a terra habitada. De pronto, conforme as divinas Escrituras, a voz de seus evangelistas inspirados e de seus apóstolos ressoou em toda a terra, e suas palavras nos confins do mundo”.
Fonte: Site O São Paulo – O que aconteceu com os apóstolos após a Páscoa de Jesus? Esta matéria está no link: Conheça a Igreja Católica – O jornal O São Paulo é o semanário da Arquidiocese de São Paulo. Mantido pela fundação Metropolitana Paulista. Acesso feito em 30/07/23